quarta-feira, 31 de março de 2021

Lições da páscoa sobre o impasse entre Jesus e Barrabás

Estamos na semana da páscoa e uma das narrativas bastante conhecidas dessa época é a narrativa da libertação de Barrabás enquanto Jesus permaneceu preso, demonstrando claramente uma inversão de valores. Clamaram para que o ímpio, ladrão, fosse liberto e que o justo e inocente permanecesse preso. Mas um ponto curioso desse dilema é "porque Barrabás?" Qual a lógica de deixar Jesus (cuja inocência é por várias vezes declarada nos evangelhos - Mc 15.55-57; Jo 18.38) preso (apenas por causa de seus ensinos) e clamar pela soltura de um criminoso popularmente conhecido? E esse tema vez ou outra surge atualmente quando o debate envolve ética e novamente "escolher ladrões em detrimento de justos". Mas talvez haja outro aspecto a se levar em consideração além da questão da inversão de valores. Para entender melhor isso deve-se compreender bem o contexto da época e as questões políticas envolvidas na narrativa.

Naquela ocasião Roma era um império em grande ascensão e conquistou, entre outras, as regiões da Macedônia, Grécia, Síria, Ásia Menor, e inclusive Israel. Revoltas políticas não era algo incomum na em governos ditatoriais como o de Roma, e surgiam vários grupos organizados com a intenção de libertar o povo oprimido. Naturalmente, os líderes mais populares eram presos pelo governo e punidos com as formas mais severas de castigo. Neste ponto é importante lembrar que Israel tinha a perspectiva de um líder messiânico, guerreiro, que quando viesse libertaria a nação da opressão romana; em certo momento quiseram coroar Jesus (Depois de ver o sinal miraculoso que Jesus tinha realizado, o povo começou a dizer: "Sem dúvida este é o Profeta que devia vir ao mundo". Sabendo Jesus que pretendiam proclamá-lo rei à força, retirou-se novamente sozinho para o monte". Jo 6.14-15), e na sua entrada em Jerusalém em sua última semana antes de ser crucificado foi recebido aclamado como o rei que veio em nome do SENHOR (Mc 11.9-10). 

Nesse contexto é que entendemos quem foi Barrabás. Seu nome comum não diz muita coisa, mas os evangelhos trazem informações complementares sobre este homem. Ele foi [provavelmente] um líder rebelde popular (Mt 27.16) preso por causa de uma rebelião (Mc 15.6-7). Durante a rebelião chegou a cometer assassinato (Lc 23.19) e roubo (Jo 18.40). Jesus, por outro lado, fugiu da tentativa de ser coroado rei naquele momento (Jo 6.15), não alimentou nenhuma falsa expectativa do povo no momento de sua entrada triunfal (Mc 11), ressaltou que seu reino não era deste mundo (Jo 18.36) e ensinou seus discípulos a pagarem os altos impostos cobrados por César (Mt 22.21). Seus ensinamentos se baseavam no princípio de amar inclusive os inimigos, e orar por eles (Mt 5.44). 

Como diz o texto, o costume adotado pelo governador (uma política de boa vizinhança para agradar os judeus, ganhar e a confiança de alguns e suprimir as revoltas) era de, por causa da páscoa, libertar um preso escolhido pelo povo. A páscoa era a festa da libertação, uma comemoração do êxodo, da libertação da escravidão egípcia. E certamente, naquele período, o anseio pela libertação da opressão estaria mais vívido na mente das pessoas. Então, diante as opções, quem escolher? Barrabás ou Jesus? Comparando Jesus e Barrabás, à luz do contexto e das esperanças que Israel nutria em relação ao messias, é possível perceber que Jesus não atendia às expectativas messiânicas desejadas e aguardadas pelo povo. Por outro lado, Barrabás talvez fosse um homem disposto lutar [literalmente] pela libertação do povo. E por isso a escolha natural foi "Barrabás". O povo escolheu alguém que estava mais próximo de sua perspectiva messiânica em detrimento do verdadeiro messias.

E hoje? Permanece o impasse. As pessoas (dentro e fora das igrejas) continuam nutrindo suas próprias versões do messias. Os homens tem seus messias ideais, pessoais, filosóficos, econômicos e políticos. E eles continuam tendo a predileção no coração dos homens enquanto o messias verdadeiro é enviado para ser crucificado. As pessoas não querem um messias que as libertem da escravidão de seus pecados, que as confrontem, que as ensinem a amar seus inimigos e orar por eles, que as faça abrir mãos de bens materiais para ganhar as benção espirituais. Muitas pessoas preferem um messias que mesmo herege, por vezes violento, assassino, ou ladrão satisfaça suas perspectivas e desejos.

Jesus Cristo é o verdadeiro messias, o rei prometido, o salvador da humanidade, aquele que liberta os homens do cativeiro do pecado. Morreu, ressuscitou e está assentado à direita do Pai nos céus. A ele seja a gloria para todo o sempre. Deus tenha misericórdia de todos.

Shalom;

Maykon Renner

sexta-feira, 12 de março de 2021

Reflexões políticas em Ageu 2.20-23


A última profecia de Ageu é direcionada especificamente ao governador Zorobabel. Ele era descendente de Davi (Mt 1.12) e, portanto, herdeiro da promessa feita por Deus de manter um descendente davídico no trono de Israel. Nesta profecia Deus promete destituir todos os governos da terra e levantar um governo único, messiânico e eterno. No entanto, sabemos que que isso não se aplica diretamente a Zorobabel e a seu tempo, mas a Jesus Cristo e ao estabelecimento pleno de seu reino na ocasião de sua Segunda Vinda.

Além do grande significado teológico desta passagem ("A esperança cristã resulta da certeza do estabelecimento futuro do Reino de Jesus Cristo"), ela possui importantes implicações políticas, por se tratar do estabelecimento de um novo governo. Implicações que são bastante relevantes para os dias atuais e que quero detalhar a seguir.

1. Primeiro, é importante que o crente perceba que nenhuma estrutura política desse mundo corresponde, ou representa o modelo de governo que Deus estabelecerá em Jesus Cristo. Naquele momento Deus fará algo único. Ele promete fazer "tremer" os céus e a terra. Ou seja, Deus iniciará com o governo de Cristo algo completamente novo, uma nova era. As estruturas que conhecemos serão abaladas. O que nos leva ao segundo ponto...

2. É importante que o crente saiba que os poderes políticos deste mundo também não subsistirão. Governantes, presidentes, a hegemonia política de nações, nada disso restará quando o governo Messiânico for estabelecido. Todas as autoridades tendem à ruína, ao colapso, porque Deus os destituirá e porque eles mesmos se destruirão uns aos outros. O Reino Eterno não será estabelecido por nenhum poder político desta era. E o ponto seguinte é um desdobramento deste...

3. Nenhum político, ou nação pode reivindicar para si o privilégio de "governar em nome de Deus", ou agir "em nome de Deus", ser "representante político da igreja" e muito menos de Deus. E em hipótese alguma a Igreja deve igualmente tentar eleger governantes assim. Há uma grande diferença entre governar com princípios que sejam bíblicos e ser o "escolhido de Deus" para estabelecer a justiça. Esse privilégio só cabe ao Senhor Jesus, o Messias de Deus. Ele é o escolhido de Deus para esse momento, foi ele que Deus elegeu como seu "anel de selar", aquele por meio de quem a autoridade divina será plenamente estabelecida no mundo.

Em fim, a esperança última do cristão deve ser no governo que será estabelecido pelo nosso Senhor Jesus no momento da sua segunda vinda; e não, nunca, em governos frágeis, passageiros e destituídos de autoridade divina, desta era. Muitos tem levantados seus bezerros de ouro, seus baais e canditados messiânicos. Num país politicamente instável, as implicações desta mensagem de Ageu é a importância de a Igreja direcionar corretamente sua esperança política de um governo bom e justo para o seu eterno Rei Jesus.

Shalom;
Maykon Renner.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

O Antigo Testamento é uma escritura legitimamente cristã?


No início da era cristã o conjunto de livros que compunham Antigo Testamento (ou a Bíblia Hebraica) já estava bem definido e fechado. Os livros que compõem a Bíblia Hebraica são divididos em três grupos chamados Lei, Profetas e Escritos. Mesmo com o uso difundido da versão grega Septuaginta (e seus 7 livros a mais) não parecia haver debates sobre a composição e a validade dos 39 livros que formaram o Antigo Testamento. Por outro lado, o Novo Testamento passou por dificuldades na aceitação do 27 livros que temos hoje. Tentaram excluir alguns (como Judas, Tiago) e outros (chamados apócrifo ou deuterocanônicos) tentaram atribuir para si uma autoridade universal.

Hoje, no entanto, percebe-se uma atitude contrária em relação a estes dois conjuntos de textos que compõem a Bíblia. O NT, que sofreu algumas objeções no início do fé cristã, hoje é um texto que goza de ampla aceitação pelas pessoas. Já o AT, que era bem aceito no início do cristianismo, hoje tem sofrido ataques e depreciações até mesmo dentro de algumas igrejas por pessoas que se dizem cristãs. E o questionamento levantado é "o AT é válido para os crentes de hoje"? Ele á uma escritura legitimamente cristã? Os motivos são vários e você já deve ter ouvido algum desse argumentos: o NT (que é completo) substituiu o AT (que é incompleto); o deus (sanguinário) no AT é diferente de Deus (amoroso) no NT; as leis e mandamentos do AT são ultrapassadas e não tem validade alguma pra hoje; o AT se baseia no legalismo enquanto o NT se baseia na graça; Jesus revogou e aboliu as leis do AT.

Pretendo dar a você agora bons motivos para aceitar o AT como escritura cristã tão completa e válida hoje como o NT:
1. Paulo atestou que o Antigo Testamento, todo ele, é inspirado por Deus e útil para o cristão: "Porque desde criança você conhece as sagradas letras, que são capazes de torná-lo sábio para a salvação mediante a fé em Cristo Jesus. Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça, para que o homem de Deus seja apto e plenamente preparado para toda boa obra" (2 Timóteo 3:15-17). Num momento em que o NT ainda não estava completo a escritura disponível e a qual Paulo se referiu nesse texto era o AT. Paulo instruiu seu discípulo Timóteo e ler o AT porque ele é útil para tornar Timóteo num homem maduro e capaz de cumprir toda boa obra. 

2. Jesus Cristo validou o AT e mostrou que ele conduz até o salvador. Em Jo 5.39b Jesus confirma que o AT fala a respeito dele. Ao se encontrar com os discípulos a caminha de Emaús (Lc 24.27) Jesus lhes explica como o AT testemunhava a respeito dele, e inclusive repreende os discípulos por conhecerem o Antigo Testamento e não entenderem o que ele ensinava sobre o Messias.

3. O Cristo deve ensinar todo aquilo que Deus falou. Em At 20.27 Paulo declara que ensinou ao povo toda a vontade Deus. Deus revelou e inspirou tanto o AT quanto o NT, então toda a Escritura compõe o conselho de Deus, revelam sua vontade e devem ser ensinados em todo o mundo.

4. O AT possui contribuições e ensinos muito singulares e valiosos que não são encontrados da mesma forma no NT. No AT o livro de cantares trata especificamente sobre o relacionamento íntimo de um casal, de forma poética e bastante didática. Levítico é um livro inteiro que ensina o cristão sobre santidade e estimula a separar o profano do sagrado. O livro de Gênesis (principalmente seus três primeiros capítulos) é de extrema importância para o desenvolvimento da teologia. Sem o livro não Gênesis não teríamos acesso aos ensinos sobre a criação do cosmos, quem foram Adão e Eva e como o pecado entrou no mundo. O salmos são um compêndio de 150 hinos que tratam das questões mais profundas do coração (morte, vida, dor, doença, pecado, desânimo, gratidão, medo) e ensinam o cristão a como se expressar a Deus em oração e louvor. A lei do pentateuco ensina o homem sobre dignidade humana, justiça, igualdade e saúde. 

5. O AT forma a base histórica e teológica do NT, e o NT é um desenvolvimento do AT. 23 dos 27 livros do NT citam versículos do AT, mais de 10% do NT é composto por citações e alusões do AT. O NT mostra o cumprimento das promessas feitas no AT. O livro de Mateus possui uma ênfase nos cumprimentos dessas promessas messiânicas feitas pelos profetas. O livro de Hebreus é um comentário do ofício sacerdotal e dos sacrifícios encontrados em Levítico. Apocalipse retoma muitos dos conceitos e profecias de Daniel e Zacarias. O livro de Gálatas traz muita luz sobre o debate da relação entre lei e graça. Sem a base que AT forma para o NT a compreensão desses livros e dos temas que eles abordam ficaria limitada.

Muitas outras coisas poderiam ser ditas sobre a importância e relevância do AT para os crentes de hoje. Como o fato de que 75% da Bíblia é o AT. Os crentes devem lê-lo, estudá-lo, e conhecê-lo profundamente. O AT é a palavra de Deus assim como o NT, é tão importante e útil quando. E se desejar ler mais um pouco sobre isso os capítulos 1 a 3 do livro Pregando e Ensinando a Partir do Antigo Testamento (Walter Kaiser) é muito instrutivo. Deixo também alguns links do Youtube:


Shalom;
Maykon Renner.








sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

A onisciência de Jesus, aquele que sonda os corações


A onisciência de Jesus é algo claramente demonstrado nos evangelhos. Por várias vezes Jesus é descrito como aquele que conhece todas as coisas. Como profeta ele estava sempre ciente de todas as coisas que deveriam lhe acontecer (
Jesus, sabendo tudo o que lhe ia acontecer, saiu e lhes perguntou: "A quem vocês estão procurando? " João 18:4). E não só estava ciente das coisas que lhe aconteceriam, como também, por conhecê-las, estava no controle de todas elas (Mais tarde, sabendo então que tudo estava concluído, para que a Escritura se cumprisse, Jesus disse: "Tenho sede". João 19:28). 

Mas algo muito belo e que pode passar despercebido em uma leitura desatenta é como Jesus usa seu conhecimento dos pensamentos e intenções dos homens, nos diálogos que tinha, para tratar os corações daqueles com quem encontrava, para ensinar-lhes importantes lições. Jesus respondia perguntas que não foram feitas, respondeu pessoas que não falaram com ele, sabia justamente o que as pessoas estavam querendo dizer, na verdade, mesmo quando falavam coisas diferentes. E nesses momentos Jesus usou seu conhecimento  dos pensamentos e intenções das pessoas para moldar seus corações. Veja alguns exemplos desses sutis diálogos:

Alguns homens trouxeram-lhe um paralítico, deitado numa cama. Vendo a fé que eles tinham, Jesus disse ao paralítico: "Tenha bom ânimo, filho; os seus pecados estão perdoados". Diante disso, alguns mestres da lei disseram a si mesmos: "Este homem está blasfemando!" Conhecendo Jesus seus pensamentos, disse-lhes: "Por que vocês pensam maldosamente em seus corações?   Mateus 9:2-4

Jesus certamente sabia que sua declaração "seus pecados estão perdoados" causaria indignação da parte dos fariseus naquele lugar. Como, de fato, ocorreu. E mesmo sem que eles tivessem ver balizado sua indignação Jesus sabia bem o que se passava em seus corações. Por isso a fala do mestre em seguida foi direta e confrontadora questionando-os sobre seus maus pensamentos.

Em outra ocasião, Jesus foi comer na casa de um fariseu chamado Simão (Lc 7.36), lá uma mulher lavou seus pés (7.37-38). Esse fato fez o fariseu, em seu coração, duvidar de Jesus Cristo por aquela mulher ser "uma pecadora". Em resposta a esse mal pensamento Jesus contou-lhe a parábola do credor. Além de Jesus responder ao pensamento do fariseu ele direciona a questão para o ponto mais importante. O problema não é ser pecador, mas não reconhecer que precisa de perdão e nem amar o Rei que perdoa os pecados. O diagnóstico do coração de Simão foi que ele não teve seus pecados perdoados e não amou o senhor, mas aquela moça que teve seus pecados perdoados o amou com todas as suas forças.

Impressionante é o diálogo de Jesus com Nicodemos. Ele veio a Jesus, à noite, e disse: "Mestre, sabemos que ensinas da parte de Deus, pois ninguém pode realizar os sinais miraculosos que estás fazendo, se Deus não estiver com ele". Em resposta, Jesus declarou: "Digo-lhe a verdade: Ninguém pode ver o Reino de Deus, se não nascer de novo". João 3:2,3. Aparentemente Nicodemos fez uma constatação sobre Jesus reconhecendo que ele, pelo menos, era mais que um homem comum, ele vinha da parte de Deus e seus milagres atestavam isso. E antes mesmo de Nicodemos perguntar qualquer coisa, Jesus direciona aquele diálogo para o que realmente importava, o coração de Nicodemos, que o mestre conhecia muito bem e sabia que precisava de regeneração. Por isso Jesus lhe assegurou que sua declaração não passaria daquilo a menos que fosse transformado pelo Espírito Santo.

Veja também outros diálogos de Jesus com os fariseus (Mc 12.13-15 / Lc 11.37-40). Faz toda a diferença ler esses diálogos de Jesus, e ainda muitos outros, com a percepção de que o Senhor, com toda sua onisciência e sabedoria, estava olhando os corações dos homens. Trazendo à tona toda maldade, realidade e necessidade dos corações das pessoas com quem ele falava. 

Como um arqueiro hábil que atira certeiramente suas flechas no centro do alvo, Jesus Cristo cientemente e sabiamente conhece os maus desejos dos corações dos homens; e pela sua palavra expõe as reais necessidades e intenções deles. Não há nada que fique escondido quando o Senhor Jesus sonda seu coração. Louvado seja o Filho de Deus, nosso Senhor, que conhece nossos corações e certeiramente age para mudar o que precisa ser mudado.


Shalom;

Maykon Renner.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

Satanás foi responsável pela extinção dos dinossauros? (Novela Gênesis - TV Record)


 Recentemente começou a ser exibida na Record a novela Gênesis. Seguindo a tradição da emissora de fazer novelas bíblicas, esta tem a promessa de ser a maior produção de todas. Curioso com a promessa resolvi assistir os primeiros capítulos da novela. E já de início o primeiro capítulo inicia-se de forma bastante curiosa. No começo satanás é retratado no céu com os anjos, em seguida literalmente é retratado caindo na terra com outros anjos em forma de meteoros que dizimam toda terra e os dinossauros que haviam nela. Surge então o questionamento: houve duas criações? Duas terras? Vamos entender a questão e chegar à compreensão do que está por trás da produção da novela Gênesis.

Na teologia existem algumas teorias que tentam explicar a criação e solucionar a dificuldade com a datação da idade da terra. Uma dessas teorias é chamada de Teoria da Lacuna. Essa teoria propões que houve uma outra criação, original, antes da criação narrada em Gn 1. Segundo essa teoria, a melhor tradução para Gn 1.1-2 seria a seguinte: "No princípio criou Deus os céus e a terra, porém a terra SE TORNOU sem forma e vazia". Quando as traduções mais comuns trazem "a terra ERA sem forma e vazia". Com o "tornou-se" a teoria diz que houve uma primeira criação completa e perfeita. Mas algo aconteceu que destruiu a primeira criação e fez com que ela "se tornasse" sem forma e vazia. Isso provavelmente foi há milhões ou bilhões de anos. Até que Deus refez uma nova criação a partir de Gn 1.3. Por causa desse período entre a primeira e a segunda criações é que essa teoria é conhecida como Teoria da Lacuna.

Como explicação para causa da destruição da primeira terra se tem a queda de Satanás. Ele foi responsável pela destruição dela, e provavelmente foi nesse período que os dinossauros existiram (o que explica também sua extinção). A terra não foi criada sem forma e vazia, foi criada completa. Satanás foi quem a destruiu. Assim, a partir do momento em que ela se tornou sem forma e vazia, Deus resolveu REconstruir a terra. 

Mas essa teoria do intervalo faz sentido à luz do relato bíblico sobre a criação? A resposta é não. E vou listar alguns breves motivos para você.

1. A própria estrutura poética do texto mostra que é mais lógico que "sem forma e vazia" seja um estado inicial da criação, do que o resultado da queda de satanás. Veja como o texto está arranjado: A terra era sem forma e vazia antes do primeiro dia. Nos dias de 1 a 3 vemos Deus separando luz das trevas, dia da noite, águas, céus e terra - Des estava dando forma ao que estava disforme. Nos dias seguintes ele fez brotar, plantas e árvores, animais terrestres, celeste e marítimos. Sol, lua e estrelas.  E por fim, o homem - Deus estava preenchendo o que estava vazio. Então faz mais sentido que sem forma e vazio seja o estado inicial de uma obra em composição do que o estado final de um criação destruída.

2. O relado da criação é muito importante para a teologia. Eles ecoam por toda a Bíblia e fundamentam grandes doutrinas: casamento e família, antrolopologia bíblica ou até mesmo a árvore da vida que ressurge em apocalipse. Sabendo da importância do relato da origens para a teologia parece improvável que Deus, ao inspirar Moisés, nos deixaria na ignorância sobre tudo que houve antes da queda de Satanás destruir a primeira criação. 

3. A novela retrata a queda de Satanás e seus anjos como "bolas de fogo" caindo do céu, meteoros que atingiram a terra causando destruição. O que não faz nenhum sentido. A queda de Satanás foi sua expulsão da presença de Deus, figurativo, assim como a queda do homem. Ele não caiu literalmente do céu, isso na verdade é muito fantasioso.

4. Como a Bíblia deveria ser lida se houvesse uma primeira criação? Como lidar com os textos que falam da criação? Se referem a primeira ou a segunda criação? Não há definição disso. 

5. O livro de apocalipse claramente mostra Deus restaurando a criação de Gn 1 e 2, por causa do pecado. E este é um grande propósito divino ao longo das escrituras. Se realmente existisse uma primeira criação antes da criação adâmica faria mais sentido que o mundo fosse restaurado à luz da primeira e não da segunda criação.

Há outras inconsistências posteriores na novela, mas por hora, é só. Leia a Bíblia!


Shalom;
Mayon Renner.

terça-feira, 26 de janeiro de 2021

Soul e a busca por um propósito na vida

O filme Soul, da Pixar, como em outras animações recentes da produtora (Divertidamente, Viva - A vida é uma festa) agrada tanto crianças quanto adultos. Tem uma mensagem que faz as crianças se agradarem do filme e que levam os adultos a sensíveis reflexões. O filmes conta a história do músico Joe e 22. Um professor de música de escola, amante do Jazz, cujo sonho é fazer parte de um grupo de Jazz de sucesso. 22 é uma alma que não tem o menor interesse de deixar a pré-vida e viver na terra. Enquanto Joe é extremamente apegado à sua vida e em alcançar o sucesso musical, 22 não tem o menor interesse de viver. A premissa principal do filme é que vale a pena viver e que a vida deve ser aproveitada a cada momento. Contudo muitas outras reflexões paralelas podem ser feitas a partir das ricas situações do filme, sobre a capacidade de influenciar pessoas, egoísmo ou sucesso profissional.

Um dos dilemas da animação é que Joe acredita o propósito da sua vida é tocar numa banda de Jazz, enquanto a 22 nunca ganha seu passe da pré-vida para a terra por nunca encontrar um missão para sua vida. No fim ambos aprendem que o propósito da vida na verdade é construído ao longo da própria vida. Joe entende que a missão de sua vida não se resume ao mercado de trabalho, E 22 aprende que seu propósito de vida se definirá à medida que se vive.

A reflexão posta pelo filme desperta algumas das dúvidas que todos temos, e que ao menos uma vez na vida já pensamos sobre elas. Para que nascemos? Por que existimos? Qual o sentido da vida? Onde queremos ou devemos chegar?

Questões que a Bíblia nos responde muito bem. A vida tem um sentido, tem um propósito e tem um caminho. Gn 1.27-27 ensina que a humanidade foi criada à imagem de Deus e que sua instrução inicial era espelhar essa imagem e espalhá-la pela terra. Ser administradores fiéis, criar filhos à imagem de Deus e fazer discípulos à imagem do Senhor Jesus Cristo (Mt 28.19-20). Tudo isso é para a glória de Deus: todo o que é chamado pelo meu nome, a quem criei para a minha glória, a quem formei e fiz". Isaías 43:7

Em uma sociedade em que as pessoas vivem para os relacionamentos e que ser solteiro pode não ser uma dádiva, a Bíblia ensina que o propósito dos solteiros é glorificar a Deus na sua solteirice. Quando muitos focam suas vidas no sucesso acadêmico e profissional, a Bíblia ensina que o homem deve viver para Deus. Em tempos em que a sexualidade é centro da vida e o maior dilema para muitos, o propósito da vida continua sendo glorificar a Deus. Seja no emprego que for, na pobreza ou riqueza, em qualquer lugar que seja, em qualquer circunstância o sentido da vida é glorificar a Deus. Fomos criados por Ele e para Ele (Cl 1.16). Viemos dEle e voltaremos um dia para Ele (Ef 1.9-10). Até lá, vivamos para Ele (Rm 12.1) .


Shalom;

Maykon Renner.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

O Cristão e as questões éticas da Atualidade - Walter Kaiser

 

    Olá, pessoal do blog, estou de volta (tentando né...). Voltarei a postar conteúdo para vocês aqui no blog. Reflexões, discussões, resenhas, etc. E hoje lhes trago uma dica de leitura preciosíssima, o livro: O Cristão e as Questões éticas da Atualidade, do Walter Kaiser. O Walter K. é um teólogo excelente e tem uma escrita muito tranquila de se ler. Se você ainda não leu nada do Walter, deveria. O livro em questão foi publicado no Brasil em 2015 pela editora Vida Nova. "O cristão e as questões éticas da atualidade" é um livro sobre ética cristã. Mas não é um livro sobre a disciplina teórica da ética. O autor não se propõe e discutir o que é ética ou fundamentar a ética bíblica de forma lógica. Walter Kaiser parte temas/problemas morais específicos e os trata a partir de passagens da Bíblia sobre esses temas.

    Um ponto alto do livro é a atualidade dos temas que ele trata. São 18 temas ao todo, entre eles: racismo, aborto, pornografia, adultério, divórcio, suicídio, homossexualidade, pena de morte. Cada um deles é abordado com sensibilidade e de forma bastante didática. O livro não é somente um livro sobre ética, mas também um guia para sermões. Em cada tema abordado Kaiser apresenta um texto-chave que ele expõe de forma muito clara. Isto faz com que o livro seja um ótimo recurso para pregadores, conselheiros e professores nas igrejas.

    Em cada capítulo do livro você encontrará a seguinte estrutura:
        1. Uma breve explanação e contextualização o tema. Que ajuda a perceber como a sociedade atual tem tratado do tema em questão. Obviamente, como o livro foi escrito num contexto norte-americano, algumas informações contextuais se aplicarão mais ao público de lá.
        2. Cada tema é respondido à luz da Bíblia. E nesse ponto Walter Kaiser expõe seu texto-chave em forma de um pequeno sermão bastante didático.
        3. Ao final de cada sermão, o autor apresenta sua conclusões e aplicações relacionadas ao tema do capítulo.
        4. Para aqueles que desejam pesquisar mais e se profundar no tema proposto, cada capítulo do livro apresenta uma lista bibliográfica que serve para consulta posterior do leitor. Mas claro que a maioria da bibliografia sugerida está em inglês, apenas aqueles título que foram traduzidos aparecem em português.
        5. Cada capítulo termina com uma série de perguntas provocativas para reflexão e discussão do leitor.

Com uma capa bastante provocadora e sugestiva, o livro é excelente para leigos, seminaristas ou pastores. Foi uma das melhores leituras que já fiz sobre ética cristã. E é um livro especialmente recomendado para aqueles que se deparam com os dilemas morais da sociedade e desejam dar uma resposta séria, amável e baseada em boa exegese bíblica.

Shalom;
Maykon Renner.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

Um bate-papo sobre pregação



Tive a oportunidade de me encontrar com meu amigo Jorge do canal "Pensamento Relevante". Conversamos sobre pregação, um pouco da realidade dos púlpitos no Brasil, pregação de autoajuda e da prosperidade, e ainda outras coisas. Você sabe como reconhecer uma má pregação? Que critérios podemos usar? Quem está autorizado a pregar na igreja? confira no vídeo o nosso bate-papo.

Shalom;
Maykon Renner.

terça-feira, 1 de janeiro de 2019

Qual a principal motivação de um pastor?

Qual a principal motivação de um pastor? Muitas  podem  ser  as  motivações  para um  homem  assumir  o  ministério  pastoral.  E  por motivações quer  dizer aquilo que  estimula  alguém  a  fazer algo.  Há  motivações espúrias e há  motivações  genuinamente  boas.  Mas  o  que  motiva,  realmente,  um  homem,  a  passar necessidades  às  vezes,  decepções  e  tantas  outras  coisas  e  assim  ingressar  e  permanecer no  ministério  pastoral?  Veremos  o  que  a  Bíblia  nos  fala  sobre  isso  e  como  motivações errôneas  podem  prejudicar  severamente  um  ministério  e  as  ovelhas  do  Pai. Para  começar , veja  o que  Paulo fala  sobre  as  características  de  um falso  mestre:

Esse  tal  [falso  mestre/pastor]  mostra  um  interesse doentio  por  controvérsias  e  contendas acerca  de  palavras,  que  resultam  em  inveja,  brigas,  difamações,  suspeitas  malignas  e atritos  constantes  entre  aqueles  que  têm  a  mente  corrompida  e  que  são  privados  da verdade, os quais pensam que a piedade é fonte de lucro. 1 Tm 6.4-5

Dentre  o  que  foi  dito  por  Paulo  podemos  destacar,  primeiro,  que  alguns  pastores  (falsos mestres)  tem  um  interesse  por  brigas  e  discussões  a  respeito  de  assuntos  polêmicos  que nadam  importam  para  a  sã  doutrina  e  apenas  causam  dissenções.  Esse  interesse  é  o  que motiva  esses  homens  a  permanecer  ensinando.  É  um  desejo  quase "doentio".  Como  Paulo  fala, uma vontade  de  discutir por  causa  de  “palavras”, ou seja, um menor  detalhe  (vírgulas!)  a respeito  de  alguma  coisa  da  Bíblia  é  motivo  para  fazer  tempestade  em  um  copo  de  água. Motivados  por  um  desejo  excessivo  a  respeito  de  assuntos  teológicos  sem  nenhum  fim frutífero  e  que  nada  influem  para  a  vida  cristã  esses  homens  apenas  “matam”  a espiritualidade de seus “seguidores”.

Outra  motivação,  encontrada  nesse  texto,  é  o  desejo  por  lucros.  Muitos  pastores  julgam que  a  religião,  ou  mais  especificamente  neste  caso  o  ministério,  é  uma  meio  para  se conseguir  algum  crescimento  financeiro.  E  embora  a  Bíblia  ensine  a  necessidade  de  se pagar  um  justo  sustento  aos  seus  pastores,  e  haja  igrejas  com  boas  condições  de proporcionarem  generosos  sustentos  aos  seus  pastores,  esse  não  é  o  propósito  último  do ministério  pastoral,  nunca  será.  E  como  Paulo  diz  ainda  posteriormente  no  mesmo  texto (v.  10)  o  amor  ao  dinheiro  é  a  raiz  de  todos  os  males.  Aqueles  que  tem  o  lucro  motivação final  de  sua  vida  acabam  na  destruição.  Homens  com  esse  tipo  de  motivação  maior  tratam o  ministério  com  profissionalismo.  E  a  igreja acaba  assumindo  os  moldes  do  mercado.  O pastor  vira  uma  espécie  de  “produto”  ou  um  certo  “prestador  de  serviços”.  Então  esses homens  acham  que  quanto  maior  for  a  qualidade  ou  a  variedade  dos  serviços  prestados maior  deve  ser  o  preço  a  ser  pago  pelos  seus  serviços.  Ou  quanto  mais  especialista  for  o pastor  mais  seu  “conhecimento”  deve  ser  recompensado[1].  Pastores  assim  são mercenários, exploradores e procuram servir apenas nas megaigrejas.

Podemos  ainda  dizer  que  há  homens  que  desejam  o  ministério  motivados  pelo  “poder” ou  status  social.  Por  ser  uma  posição  respeitada  e  influente,  muitos  homens  pensam  no ministério como uma  oportunidade  política.  Pensam  em galgar  posições  de  liderança  em uma  igreja  até  chegar  ao  ministério  para  poder  influenciar  as  pessoas,  guiar  a  vida  delas tendo  por  base  seus  próprios  conceitos  pessoais.  Usam  a  igreja  como  um  grupo  para trabalhar em torno de si mesmos.

Mas  há  pastores  que  tem  boas  motivações  para  ingressar  no  ministério  pastoral.  Uma delas  é  o  amor  pelas  ovelhas  que  pastoreia.  Essa  é  uma  boa  motivação  porque,  afinal,  se alguém  dedica  sua  vida  para  cuidar  de  pessoas  é  preciso  que  você  as  ame.  Caso  contrário o  pastoreio  seria  motivado  pela  obrigação.  E  com  relação  a  isso  Pedro  já  nos  advertiu  que essa  não  deve  ser  a  motivação  para  o  ministério  (1  Pe  5.2);  Deus  quer  que  o  ministério seja  exercido  com  prazer.  Um  ministério  por  obrigação  é  o  ministério  de  um  pastor,  na verdade,  sem  motivação,  sem  prazer,  sem  vontade,  como  costuma-se  dizer  “empurrando com  a  barriga”.  Por  outro  lado,  a  pesar  de  o  amor  pelas  ovelhas  ser  uma  boa  motivação, esta  ainda  não  é  a  principal  delas.  “Quem  ama  seu  pai  ou  sua  mãe  mais  do  que  a  mim não  é  digno  de  mim;  quem  ama  seu  filho  ou  sua  filha  mais  do  que  a  mim  não  é  digno  de mim”  (Mt  10.37).  Se  trocássemos  as  palavras  pai,  mãe,  filho  e  filha  por  ovelhas?  Então podemos  aprender  que  nada  nesse  mundo  pode  tomar  o  lugar  do  amor  que  um  cristão,  ou um  pastor,  tem  por  Jesus  Cristo.  Se  isso  acontece,  se  o  amor  pelas  ovelhas  é  a  maior  e principal motivação  para  um pastor,  ainda  que  o pastor seja  capaz  de  grandiosas atitudes pelas  ovelhas,  este  ainda  corre  um  sério  risco  de  se  tornar  um  bajulador.  Alguém  que mima  as  ovelhas,  evita  discipliná-las  e  prega  apenas  aquilo  que  elas  querem  ouvir.  Aqui vale  lembrar  um  provérbio:  “Quem  repreende  o  próximo  obterá  por  fim  mais  favor  do que  aquele  que  só  sabe  bajular”  (Pv  28.23).  Isso  nos  leva  ao  que  deve  ser  a  maior  e principal motivação para o ministério pastoral.

Como  já  visto  em  Mt  10.37,  Cristo  deve  ser  o  maior  objeto  de  amor  e  devoção  do  cristão, de  uma  forma  geral,  e,  consequentemente,  do  pastor.  E  não  há  maior  e  mais  bela motivação  para  o  exercício  do  ministério  pastoral  do  que  ter  por alvo  amar a  Jesus  Cristo sobre  todas  as  coisas.  Se  Jesus  não  tiver  acima  de  todas  as  coisas  no  ministério  pastoral, todas  as  outras  estarão,  consequentemente,  desarranjadas.  É  pouco  provável  que  alguém ame o menor sem amar corretamente  o maior  (Mez  McConnell).  Sem  o devido amor  por Cristo,  quando  no  ministério  houver  tribulações,  quando  as  dificuldades  surgirem,  quando deliberadamente  as  ovelhas  forem  contra  o  pastor,  então  não  haverá  mais  motivos  para seguir  no  ministério.  Mas  quando  Cristo  for  o  alvo,  quando  todos  os  sofrimentos  pela igreja  for  por  amor  a  Cristo  então  a  motivação  jamais  será  perdida  de  vista.  Além  disso, quem  ama  verdadeiramente  a  Jesus  Cristo  também  amará  suas  ovelhas  e  cuidará  delas com amor (Warren Wiersbe). É isso que Jesus ensina a Pedro em Jo 21.15-17:

Depois de  comerem,  Jesus perguntou a 
Simão Pedro: “Simão, filho de  João, você  me ama mais do  que  estes?”
Disse ele:  “Sim, Senhor,  tu sabes que  te amo”.
Disse Jesus: “Cuide dos  meus cordeiros”.
Novamente Jesus disse:  “Simão, filho de João, você  me  ama?”
Ele  respondeu: “Sim, Senhor, tu sabes que  te  amo”.
Disse Jesus: “Pastoreie  as minhas ovelhas”.
Pela terceira vez, ele lhe  disse: “Simão, filho de  João, você  me  ama?”
Pedro ficou magoado por Jesus lhe  ter perguntado pela terceira vez “Você  me  ama?” e lhe disse:  “Senhor, tu  sabes todas as coisas e sabes que  te amo”.
Disse-lhe Jesus: “Cuide das minhas ovelhas.

Aquele  que  ama  verdadeiramente  o  sumo-pastor  amará  suas  ovelhas  e  cuidará  delas.  De fato,  aquilo  que  deve  motivar  um  pastor  a  cuidar  das  ovelhas  do  Pai  é  o  amor  a  Cristo.  E o  que  deve  motivar  o  pastor  a  permanecer  firme  no  ministério  mesmo  diante  de  tantas dificuldades  é  o  amor  por  Cristo.  O  que  deve  levar  tantos  homens  a  abrirem  mão  de  tantos projetos  para  dedicarem-se  a  uma  vida  ministerial  é  o  amor  por  Cristo.  “O  amor  [por Cristo],  o  amor  puro,  é  a  única  base  adequada  para  o  serviço  [pastoral]”  (Earle  & Mayfield).

Shalom;
Maykon Renner.
_____________________________
[1]  Mas  veja  bem,  não  confunda  este  ponto  com  noção  que  a  igreja  pode  ter  de  valorizar o  estudo  e  a  capacitação  de  seu  pastor  investindo  nele  e  em  seu  desenvolvimento.  Nada disso  tem  a  ver  com  a  noção  de  obrigatoriamente  “recompensá-lo”  ou  pagar  por  um produto disputado no mercado; sendo  este último o ponto discutido no  texto.

segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Pastores no Juízo Final

A Bíblia deixa bem claro que as funções pastorais principais são a oração e o ensino (nas suas diversas formas, tanto público quanto particular). Mas não faltam relatos, de pastores que deixam faltar às suas ovelhas o essencial da palavra de Deus, deixam de cuidar delas, orientá-las, discipliná-las etc. A própria Bíblia fala sobre esses pastores, do quanto to Deus se importa com suas ovelhas e odeia esses pastores (cf. Ez 34). Como que esses homens veem seus ministérios no futuro? Não sei, mas sei diante de quem estarão no fim de tudo.

Acompanhe o seguinte raciocínio. O que a Bíblia ensina sobre o futuro (o fim dos tempos) é que um dia todos estarão diante de cristo como juiz que julgará os atos de todos (Mt 25.31-46; I Co 15.51; 1 Ts 4.13-18). "Os mortos foram julgados de acordo como que tinham feito, segundo o que estava registrado nos livros" (Ap 20.12b). Quanto a isso há ainda nas Escrituras exortações específicas para os pastores, pois eles deverão no final dos tempos prestar contas, ao sumo pastor, das ovelhas sobre as quais estiveram responsáveis aqui na terra. "Eles [seus líderes] cuidam de vocês como quem deve prestar contas" (Hb 13.17).

Paulo foi bastante cirúrgico quando falou a Timóteo da necessidade dele desempenhar bem suas atividades como pastor: "Na presença de Deus e de Cristo Jesus, que há de julgar os vivos  e os mortos por sua manifestação e por seu reino, eu o exorto solenemente". Paulo, prestes a morrer por causa da perseguição ao evangelho, exorta Timóteo à pregar a palavra. E o cenário descrito por Paulo neste versículo é surpreendente. Ele invoca duas testemunhas para presenciarem um juramente solene (Deus e Jesus). Essas testemunhas não vão somente testemunhar, mas serão juízes do pacto no final dos tempos. Jesus julgará vivos e mortos na sua "manifestação" e quando seu reino se manifestar de forma plena. Essa referência aponta para o fato de que Jesus, o sumo pastor, no fim dos tempos, irá julgar até que ponto os pastores compriram suas atividades e responsabilidades com suas ovelhass na terra.

Todo esse cenário, é digno de inspirar temor (e um certo terror também) em todo ministro da palavra de Deus que se empenhe em pastorear um povo tão especial para Deus. Por isso algumas vezes me questiono: "será que os pastores que não cuidam bem de suas ovelhas não sabem que serão especialmente julgados por isso? Será que não lhes pesa a consciência? Que visão eles tem de Deus e do temor que a Bíblia fala? Há anos li um artigo que falava do quão era bom um pastor ser atemorizado pela grandeza de Deus. E certamente, saber que terá que dar conta de cada ovelha pastoreada, e que o dono delas as ama como um amor infinito (e que é tão severo quanto amoroso), deve inspirar nos pastores um zelo sem igual pelo ofício e pelas ovelhas daquele que é o começo o meio e o fim de todas as coisas: Deus.

Shalom;
Makon Renner.
 em todo Os mortos foram julgados de acordo com o que tinham feito, segundo o que estava registrado nos livros.

Apocalipse 20:12
Os mortos foram julgados de acordo com o que tinham feito, segundo o que estava registrado nos livros.

Apocalipse 20:12
Os mortos foram julgados de acordo com o que tinham feito, segundo o que estava registrado nos livros.

Apocalipse 20:12
Os mortos foram julgados de acordo com o que tinham feito, segundo o que estava registrado nos livros.

Apocalipse 20:12

quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Por que não ler livros de autoajuda

A literatura de autoajuda é uma das literaturas mais procuradas nos últimos tempos. Alguns desses livros estão entre os mais vendidos da história. Com certeza vocês já devem ter ouvido falar sobre o livro "Como fazer amigos e influenciar pessoas", publicado em 1936, ele é um dos precursores do mercado de autoajuda e um dos livros mais vendidos da história. Há alguns anos foi publicada uma "atualização" (um segundo livro) chamada "Como fazer amigos e influenciar pessoas na era digital". Muito conhecido de todos também é o livro "O monge e o executivo", que apesar de ser um livro sobre liderança ainda se encaixa na categoria de autoajuda. O que é surpreendente é que o mercado de autoajuda também "invadiu" o meio cristão. Há muitos autores que são conhecidos no meio cristão pelo seus livros de autoajuda. Mas há algum problema com os cristãos que leem literatura de autoajuda (seja ela cristã ou secular)? É o que tentaremos compreender aqui.

Começamos com a pergunta: o que é autoajuda? Olhando atentamente os vocábulos que formam a expressão podemos dizer que é um modo de ajuda própria, um método para que a pessoa aprimore-se pessoalmente sem precisar da ajuda de um terceiro. O objetivo  é aprender a viver bem e alcançar o sucesso na vida. Um ponto alto da literatura é que ela consegue se identificar bastante com as dificuldades diárias do seu leitor comum. Porém, no geral, esse tipo de literatura, embora não seja completamente inútil, pode ser mais danoso do que proveitoso, tanto para o leitor secular e mais ainda para o leitor cristão. E eu lhe dou algumas razões.

Primeiro, é uma literatura fraca em sua escrita e pouco desafiadora. Boa parte desses livros se resumem em chavões e frases de efeito que chamam a atenção apenas das mentes mais ingênuas e desavisadas. É uma literatura de certo modo repetitiva porque os assuntos são quase sempre os mesmos (como alcançar algum tipo de sucesso). É uma leitura sem conteúdo expressivo. Muitas vezes são apenas manuais da vida diária como "faça isso", ou "seja assim", "siga esses passos". Não são livros que exijam muito esforço intelectual do leitor para sua leitura; com isso não estou advogando em favor de uma leitura intelectualista, mas quero ressaltar o fato de que como escrita de qualidade (até mesmo artística) esse tipo de material tem pouquíssimo a oferecer. Sinceramente, não me entenda mal, um cristão, leitor assíduo da Bíblia, que é um livro tão rico em literatura e inclusive escrita artística, um livro de tão alta qualidade, deveria ser mais criterioso com a qualidade dos livros que lê.

Segundo, é um tipo de literatura extremamente otimista e, por isso, quase sempre mentirosa. Além de geralmente ser simplista. Nesse tipo de literatura não há espaço para o erro, para o insucesso. Falta uma pitada de realismo nesses livros que prometem uma vida de sucesso. Nem todos serão bem sucedidos, nem todos serão felizes, nem todos alcançarão seu objetivos. Isso porque esses livros dificilmente tem em perspectiva a noção de pecado, que tantos males tem causado neste mundo e tem desgraçado e vida de tantas pessoas. Muitos acusam esse livros de apresentarem respostas fáceis para os problemas da vida. E muitos título parecem prometer isso realmente: "O Segredo", "Os sete hábitos das pessoas altamente eficazes", "Os segredos da mente milionária", "Nunca desista de seus sonhos" etc. Vai dizer que nenhum deles te chamou a atenção? Muitas pessoas na realidade podem se sentir piores ao final de uma leitura dessas por tentarem e verem o seu insucesso em seguir as orientações do livro. Muitas pessoas na realidade vão mal na vida porque seu pecado as aprisiona. Disso os livros de autoajuda não dão conta. A Bíblia é quem verdadeiramente dá conta dos grandes anseios da vida humana, ensina  maravilhosamente como viver bem no mundo (Pv 1.7), dá grandes ensinamentos sobre a vida financeira, trabalho, relacionamentos e tudo isso centrado no maior conhecedor do homem, no homem mais humano que já pisou nesta terra: Jesus Cristo.

Por último, e esse é, no meu ponto de vista, o principal motivo pelo qual a literatura de autoajuda é danosa principalmente para cristãos, é que esse método só considera que o único agente decisivo de mudança na vida das pessoas são elas mesmas. Há muita ênfase no "poder da mente", na "força de vontade" e no "esforço próprio" como meios de se atingir um objetivo. Quase nunca se considera que são inúmeros os fatores que influenciam nas rotas da nossa vida. Muitas coisas fogem do poder próprio, e muitas delas estão nas mão de outras pessoas. E tudo, absolutamente tudo, está nas mãos de Deus. Nessa literatura o homem se torna regente se sua própria vida e age para alcançar o sucesso que ele deseja. O cristão é, portanto, tentado a se esquecer de Deus como o ser que controla absolutamente tudo na criação, que decreta todas as coisas e mesmo que aquilo que o homem alcança lhe é, antes, concedido por Deus (Sl 104.14-15).

Livros de autoajuda, ainda que possam contribuir com alguma coisa,  são livros que os cristãos deveriam evitar. A quantidade de livros que são lançados anualmente é absurda, e cada escritor que apresente um método mais maravilhoso que outro para os dilemas da vida, não há fim, não há concenso. Conheço pessoas que já leram vários e sempre surge um melhor que o outro, um com uma solução melhor que o outro. Há milhares de outros bons livros, com bom conteúdo, bem melhor fundamentados que podem dar boas contribuições para a vida. E a Bíblia é o principal deles; nela há tesouros maravilhosos como os livros de Eclesiastes, Provérbios e Salmos que falam tão profundamente ao coração do homem aflito por ajuda e desejoso de viver uma vida sábia. Não há ajuda melhor que a ajuda do alto.

Shalom;
Maykon Renner.
É ele que faz crescer o pasto para o gado, e as plantas que o homem cultiva, para da terra tirar o alimento:
o vinho, que alegra o coração do homem; o azeite, que faz brilhar o rosto, e o pão que sustenta o seu vigor.

Salmos 104:14,15
É ele que faz crescer o pasto para o gado, e as plantas que o homem cultiva, para da terra tirar o alimento:
o vinho, que alegra o coração do homem; o azeite, que faz brilhar o rosto, e o pão que sustenta o seu vigor.

Salmos 104:14,15
É ele que faz crescer o pasto para o gado, e as plantas que o homem cultiva, para da terra tirar o alimento:
o vinho, que alegra o coração do homem; o azeite, que faz brilhar o rosto, e o pão que sustenta o seu vigor.

Salmos 104:14,15
É ele que faz crescer o pasto para o gado, e as plantas que o homem cultiva, para da terra tirar o alimento:
o vinho, que alegra o coração do homem; o azeite, que faz brilhar o rosto, e o pão que sustenta o seu vigor.

Salmos 104:14,15
É ele que faz crescer o pasto para o gado, e as plantas que o homem cultiva, para da terra tirar o alimento:
o vinho, que alegra o coração do homem; o azeite, que faz brilhar o rosto, e o pão que sustenta o seu vigor.

Salmos 104:14,15

terça-feira, 9 de outubro de 2018

A Bíblia e a questão da escravidão


Muitos questionam a Bíblia como fonte confiável de uma ética que valorize o ser humano como um ser com dignidade. Muitos a chamam de retrógrada e ultrapassada. Mas a verdade é que os primórdios do judaísmo apresentam uma proposta de ética que antecede a de nações consideradas mais “avançadas”. Começa pela valorização do ser humano como um ser portador (mesmo que manchada) da imagem de Deus. Entre estas questões éticas está a da escravidão. Pode ser um problema o fato de que a Bíblia não trate sobre algo que foi um problema social tanto na época do AT como do NT; não há nenhuma passagem bíblica que trate diretamente sobre tal tema. A epístola de Filemom parecia uma bom momento para que Paulo abordasse a questão, mas ele não o fez. Contudo, de forma resumida, o que mostraremos aqui é que uma análise mais atenta de alguns textos bíblicos sobre a questão, a legislação do AT sobre senhores e escravos, a ética proposta por Paulo em suas epístolas e a epístola de Filemom poderá mostrar que a escravidão é incompatível com a vida cristã neotestamentária.


A escravidão no Antigo Testamento

A escravidão foi uma prática bastante comum em todo o Antigo Oriente Médio. Mas escravidão praticada no AT era bem diferente da escravidão dos africanos no Brasil e em toda a américa. Havia no Antigo Testamento várias formas de alguém adquirir escravos:

1.    os escravos poderiam ser prisioneiros de guerra (Dt 20.10-12);

2.    outra possibilidade era através da compra de escravos estrangeiros (Lv 24.43-45);

3.    também havia a possibilidade de comprar alguém endividado ou pobre (Ex 22.3; Ne 5.1-5);

4.    ou quando alguém se entregava voluntariamente para escravidão por não ter como se sustentar ou à sua família (Lv 25.39).

A pesar de o AT não proibir a escravidão, encontra-se na Torá uma regulamentação a prática de modo que não houvesse abusos. Os escravos eram protegidos pela lei:

  • Um escravo deveria ser liberto depois de seis anos de trabalho (Ex 21.2-4), E quando liberto e não deveria sair de mãos vazias (Dt 15.13-14).
  • Um homem que se vendeu como escravo poderia a qualquer momento ser resgatado pelos seus parentes (Lv 25.48-49).
  • Os escravos não deveriam ser maltratados (Lv 25.53), se o fossem deveriam ser libertos como forma de indenização (Ex 21.26-27).
  • Se um homem se casasse com sua escrava esta não deveria mais ser tratada com escrava, ou, se lha desse em casamento a um filho seu, a escrava deveria ser tratada como filha. Se ela fosse maltratada poderia deixar seu esposo e tornar-se livre (Ex 21.10-11).
  • Os escravos também tinham direito à folga do sábado (Ex 20.10) e a participar das festas nacionais (Dt 16.10-11). Os escravos poderiam ser tão bem tratados que poderia ocorrer de eles amarem seus donos e desejarem permanecer como escravos seus até a morte (Ex 21.5-6, Dt 15.16).

A Torá mostra que desde o início da nação Israelita havia uma preocupação social também com os escravos. É claramente visível que ela põe alguma dignidade sobre os escravos, algo completamente incomum no Antigo Oriente Médio.


A escravidão no Novo Testamento

Na época no NT a escravidão era largamente praticada. Em Jerusalém havia um mercado voltado para o leilão de escravos. Em Roma havia muitos escravos e boa parte de sua economia era dependente disso. Os donos tinham autoridade sobre a vida do escravo e muitos eram maltratados e assassinados pelos seus donos. Quando libertos não tinham os mesmos direitos que um cidadão romano natural.

Com o advento do cristianismo, pessoas de todas as classes sociais foram convertidas, muitos senhores, escravos e ex-escravos foram alcançados e frequentaram as igrejas. Há orientações destinadas a eles em Efésios, Colossenses, 1 Coríntios, 1 Pedro e 1 Timóteo. Em resumo, escravos deveriam aprender a obedecer seus senhores e respeitá-los tendo em vista agradar a Deus com seu testemunho; os senhores deveriam tratar bem seus escravos sabendo que eles também carregavam a imagem de Cristo neles.

            Diante desse cenário não há dúvidas de que eventualmente os cristãos do NT foram levados a libertarem seus escravos. Pois a comunhão da qual deveriam desfrutar, escravos e senhor, era incompatível com a prática da escravidão. Se os senhores compreenderam realmente o ensino de Ef 2.9 certamente teriam uma visão mais humanizada de seus servos. Em 1 Co 7.21 Paulo diz que os escravos deveriam buscar sua liberdade se for possível. Olhando para a situação de Filemom e Onésimo, vemos que Paulo eleva o padrão de relacionamento deles de modo que permanecer na situação de escravidão seria incompatível (Fm 16). Ainda, um ponto importante é que Paulo esperava que Filemom fosse além de seu pedido de perdão (Fm 21). E, mesmo não sendo possível comprovar, é bastante provável que a libertação de Onésimo estivesse envolvida nessa declaração. O que seria maior que perdoar as ofensas de um escravo, esquecer os prejuízos que ele deixou e recebê-lo com amor em seu lar como alguém da família? Libertar o escravo seria, provavelmente, o passo seguinte.

             Portanto, mesmo que não tenhamos uma exortação específica na Bíblia voltada para a abolição da escravatura, a mensagem do evangelho e a ética cristã (bíblica) tornam essa prática antagônica ao cristianismo. Ao invés de uma força pressionando por fora, o evangelho destrói essa prática por dentro. O contexto social é transformado a partir da transformação espiritual dos crentes, como no caso de Filemom e Onésimo.

Shalom;
Maykon Renner.