segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Ministério: Chamado ou Profissão – Resumo Crítico





 Confesso que sempre achei o conceito de “chamado” pastoral um pouco subjetivo, e na verdade pouco claro. Nunca tive um momento “X” da vida em que Deus me “chamou” para ser pastor, mas não tenho dúvidas quanto ao ministério pastoral na minha vida. A palestra do Dr. Russell Shedd me esclareceu bastante essa questão. Resumidamente, Dr. Shedd aborda três pontos básicos: o que a Bíblia fala verdadeiramente sobre chamado; o que a Bíblia fala sobre a função de pastor; e o que é o profissionalismo.
“Chamado” à luz da Bíblia:
De início entendemos que a palavra chamado (vocação ou convite) como apresentado na Bíblia é diferente do modo como nós a usamos hoje. Entendemos a questão do chamado como um convide de Deus à uma missão diferenciada (ser pastor), e desta concepção surge a ideia católica da divisão entre clero e leigos que de certa forma foi absorvida pelo protestantismo hoje (infelizmente alguns pastores ainda acham que são realmente especiais em relação aos chamados leigos).
Mas no novo testamento o chamado é para ser cristão e seguir a Jesus, chamado para salvação e santificação, como pode ser visto nos seguintes textos apresentados pelo Dr. Shedd: 1 Tm 6.12; 1 Co 1.9; 1 Pe 2.9; Gl 1.15; Gl 5.8; Ef 4.4. Além disso outros textos (1 Pe 24-5 e 9 Ap 1.6) nos mostram que todo cristão é chamado ao sacerdócio individual. Nas palavras do Dr. Shedd, “...a divisão entre clero – ordenados – e leigos é artificial. Todo crente tem chamado. Chamado para quê? Para ser sacerdotes”.

Não existe diferenciação entre pastor, mulher de pastor, seminarista membro de igreja etc. Todos são cristãos e devem cumprir com seu chamado. São todos irmãos em cristo sem diferenciação de títulos. Como entendemos então a questão do pastorado?

A função de pastor:
            Ninguém no NT é chamado de pastor a não ser Jesus Cristo, como em João 10, ou Efésios 4.11 que analisaremos mais à frente. O que vemos mais comumente é a palavra sendo usada para descrever uma função: pastorear, ou seja, cuidar dos que estão ao redor. Bispo, guia, ou presbítero também são usados com esse sentido.

         O pastorado não é um chamado. O texto de 1 Tm 3.1 é importante para essa compreensão. Segundo Dr. Shedd “o pastorado é um trabalho que alguém ‘quer’ exercer”. Logo, o que diferencia os chamados leigos dos que são pastores? A resposta é o dom. Deve ser pastor aquele que tem o dom de pastor, como se pode ver em 1 Pe 4.10-11 quando o apóstolo fala em “múltiplas formas”, múltiplos ministérios, como o da língua, fala. Paulo exorta Timóteo a não negligenciar o dom que Deus havia lhe dado. Esse dom é o dom de ensinar e cuidar.

Em Romanos 12 Paulo fala sobre o dom de ensinar, e em Efésios 4.11, quando Paulo fala dos dons na igreja, a palavra mestre que vem associada à palavra pastor faz referência ao dom de ensinar. Portanto, ser pastor é ter o dom de ensino e supervisão (pastor-mestre), cuidar e ensinar as ovelhas do Pai com a finalidade de edificação, isso é claro no texto de Efésios 4.11.

Profissionalismo:
            Pelo fato de o pastorado não ser um “chamado” diferenciado, nem de se tratar de alguém sem um nível superior é que o ministério não é profissão. No profissionalismo o profissional confia em sua capacitação e sua competência. O profissional é alguém que se distingue dos leigos por causa de sua formação. O profissional se preocupa em fazer marketing de si mesmo e si preocupa em dar uma boa impressão. Pela sua competência, formação, experiência, fama... o profissional visa receber um bom salário que seja compatível com tudo isso.

            Nada disso é compatível com o dom de pastor-mestre. Um verdadeiro pastor não confia em sua capacitação, mas é dependente de Deus. Ele não se promove, mas promove Jesus Cristo. O pastor não se distingue dos demais, ele é apenas um irmão com um dom diferente. Infelizmente temos hoje muitos pastores profissionais, que se promovem visando bons salários e que se acham diferenciados pelo “título” (falso) que tem. Certa vez vi um pastor que ao se apresentar ele dizia: “Olá eu sou o pastor fulano”. Como se o título de pastor fosse parte do nome dele.

Conclusão:     
Para um resumo, acho que me empolguei e falei demais. Concordo com tudo que foi dito pelo doutor Russel Shedd. Entendi que o ministério não é chamado nem profissão. Pastorado não é chamado, é o desejo exercer o dom de cuidar e ensinar (ser pai) os que estão ao redor. O pastor não é um profissional que se distingue dos leigos pela sua formação teológica. Fico triste ao ver (e conhecer) por aí muitos pastores profissionais, que tem medo de falar as verdades da Bíblia para não ofender ninguém, que se consideram sacerdotes da igreja e visam lucro, esses deveriam rever seu (ironicamente) “chamado”. No mais, assistam a palestra (segue vídeo logo a baixo), que é muito edificante e muito esclarecedora. E que Deus abençoe os pastores que tem o dom. E julgue os profissionais.

Shalom;
Maykon Renner




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