terça-feira, 18 de março de 2014

Influências Católicas, Místicas e Pagãs no Protestantismo: Parte 1 - O processo de institucionalização da Igreja



            Ao contrário do que se pensa, a Igreja, na qualidade de instituição, nem sempre foi da forma que conhecemos, não nasceu pronta, e não tinha os costumes aos quais somos familiarizados hoje. No processo de institucionalização, à pesar do crescimento quase que exponencial, passou por várias mudanças que influenciaram negativamente sua formação.
            Nos primeiros anos os cristãos eram perseguidos pelo Estado e se reuniam secretamente em catacumbas, pois era considerado uma seita política que agia contra o imperador. Assim foi nos primeiros séculos do cristianismo. Mas ao mesmo tempo o Estado Romano passava por crises políticas e revoluções. Na segunda metade do séc. III, Diocleciano reorganizou o Império e tentou acabar com o cristianismo, porém o crescimento dos cristãos parecia ameaçar a cultura. Constantino, sucessor de Diocleciano, mais astuto, percebeu que não venceria pela força. Então, após uma suposta visão de uma cruz, em 312 d.C. numa batalha, que lhe garantiu a vitória, converteu-se e decidiu, em 313 d.C., garantir à Igreja a liberdade de culto.
            A partir de então começou a processo de institucionalização da Igreja. O Imperador passou a conceder privilégios à Igreja, e a Igreja passou a envolver-se cada vez mais com assuntos do Estado. E de perseguida, passou agora à perseguidora dos que não aceitavam o cristianismo. Constantino instituiu também o “Dia do Sol” (Domingo) como dia de culto, e sua presença nos cultos estimulou grande parte dos cidadãos romanos a frequentarem o culto também, e a se vestirem bem, nesse dia especial, para encontrar com o Imperador. Em seguida, com a expansão do Império Romano, e posteriormente com a invasão dos bárbaros, a Igreja percebeu a importância de levar o cristianismo aos bárbaros. O que resultou em conversões em massa dos bárbaros. E juntamente com os bárbaros veio a sua cultura que acabou por adentrar à cultura da Igreja.
            A consequência de todas essas transformações foram: o domingo passou a ser o dia principal da Igreja, aumentaram o números de cerimônias e sacramentos, a teologia foi afetada, instituição de dias santos, adição de festas “estranhas” ao cristianismo, culto aos heróis (ou santos) e surgimento de uma hierarquia sacerdotal. De uma forma resumida:

Em 590, Igreja tinha não somente se libertado do Estado Romano, mas também se tornado intimamente associada a ele. Deus também sua contribuição ao converter ao cristianismo os invasores teutões do Império [...]. No processo, porém, massa de pagãos [...] entraram logo para a Igreja sem serem devidamente doutrinados [...]. Muitos deles trouxeram para a Igreja seus velhos padrões de vida e costumes. [...] Ao tentar resolver o problema da presença bárbara, a Igreja acabou parcialmente paganizada. (CAIRNS, 2008, p. 110)

            Então vemos, pela história, que a Igreja foi afetada pela influências da sua época, o que resultou numa perda parcial de sua identidade. Problema que está enraizado nas suas origens. Muitos dos nossos costumes hoje ainda derivam dessas influências da Igreja nos primeiros séculos. Mas alguns foram adquiridos por nós ainda “recentemente”. Cada grupo ou comunidade cristã tem seus próprios usos e costumes, que podem vir de uma longa história ou ser adquiridos a pouco tempo. Porém o problema não está em adquirir práticas novas, sejam elas de qualquer origem, para identificar o grupo ou aperfeiçoar a liturgia, o problema está em como essas práticas se relacionam com a sã doutrina bíblica. Essa foi a maior dificuldade da Igreja nos primeiros séculos.
Vamos ver um exemplo da questão. Algumas comunidades cristãs podem proibir ou liberar o uso de certos instrumentos musicais em seu culto. Porém, nem as que proíbem nem as que liberam podem reclamar estar mais certas ou erradas pela bíblia, que não condena nem uma nem outra prática. Então o que devemos fazer é avaliar o que fazemos e ver se está de acordo com a bíblia.

mas ponham à prova todas as coisas e fiquem com o que é bom” 1 Ts 5.21

            Paulo aqui falava a respeito da profecias da época, e a forma de julgá-las era pela bíblia. Mas entendo que, de forma análoga, pode ser aplicado a todas as áreas da nossa vida, já que um cristão autêntico só age de acordo com a bíblia. Por isso não podemos aceitar que nos empurrem tudo calados. Temos que ter censo crítico. Somos aconselhados a avaliar todas as coisas e ficar apenas com o que é bom. E é comparando à bíblia que chegamos à conclusão se algo é aceitável ou não.

CAIRNS, Earle E. O Cristianismo Através dos Séculos: Uma história da Igreja Cristã. São Paulo: Vida Nova, 2008. 

VEJA:
Parte 2 - O Misticismo na Igreja de Hoje
Parte 3 - O Paganismo na Igreja de Hoje
Parte 4 - O Catolicismo na Igreja de Hoje
Parte 5 - Conclusão: Uma Visão Crítica da Igreja de Hoje

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