O que é a glória de Deus?

Muito se fala na Bíblia sobre a glória de Deus; principalmente os livros de Êxodo e Salmos. E muitos textos também dizem para dar glória a Deus. Talvez para as pessoas no contexto da Bíblia esse fosse um conceito já internalizado (natural), mas dificilmente esse conceito é claro para os leitores atuais. A proposta, neste post, é trazer um pouco de luz sobre o que é a glória de Deus e como esse conceito foi "evoluindo" no decorrer dos textos Bíblicos.

Para começarmos (pelo AT), a palavra hebraica para glória é kabod, derivada[1] da palavra kabed, que significa ser pesado e pode ter um aspecto tanto negativo quanto positivo. E daí pode ter surgido a noção (positiva) de alguém que é pesado socialmente, ou seja, tem proeminência social. Ou como costumamos dizer uma pessoa de "peso". Agora, partindo para o uso de kabod na Bíblia... No período inicial da nação israelita glória de Deus estava diretamente relacionada ao tabernáculo (tanto o primeiro quanto o segundo). Vejamos:

Quando Moisés subiu, a nuvem cobriu o monte, e a glória do SENHOR permaneceu sobre o monte Sinai (...) Aos olhos dos israelitas a glória do SENHOR parecia um fogo consumidor no topo do monte. (Ex 24.15-17 - NVI)

Então a nuvem cobriu a tenda do encontro, e a glória do SENHOR encheu o tabernáculo. Moisés não podia entrar na Tenda do Encontro , porque a nuvem estava sobre ela, e a glória do SENHOR enchia o tabernáculo. (Ex 40.34-35 - NVI)

Por esses dois textos de Êxodo podemos ver (inicialmente) que a glória do SENHOR é a manifestação visível da presença de Deus[2] para Israel no templo. Era um tipo de teofania[3] simbolizada pela nuvem e pelo fogo (e esses elementos evidenciavam a grandeza de Deus). Vários textos do livro de Êxodo evidenciam isso. Como também fica claro neste outro texto em Lv 8.6:

Disse-lhes Moisés: "Foi isso que o SENHOR ordenou que façam, para que a glória do SENHOR apareça a vocês."

Já num período posterior da nação, no livro de Salmos, alguns textos também reforçam a ideia da glória do SENHOR como sua presença (Sl 85.9b) como também adicionam alguns elementos: as obras de Deus. Veja:

... e a sua glória habitará em nossa terra (Sl 85.9b - NVI)

Os céus declaram a glória de Deus, e o firmamento a obra de suas mãos (Sl 19.1 - NVI)

Celebrarão os feitos do SENHOR, pois grande é a glória do SENHOR (Sl 138.5 - NVI)

Os textos de Sl 19.1 e 138.5 se apresentam na forma de um paralelismo sinonímico[4]. Por ele podemos ver que as obras de Deus também são a glória de Deus: no texto do Sl 19 a glória de Deus é a natureza criada pois ela revela Deus como criador (quem Ele é); e no texto do Sl 138 a glória de Deus são suas ações em favor de Davi pois elas revelam Deus como aquele que cuida (o que Ele faz) do seu povo.

Já em direção ao NT, temos a palavra grega doxa como correspondente para kabod. Porém não há muita explicação do NT do que seja a glória de Deus, o que podemos ver é uma continuação do significado para a glória de Deus do AT (está pressuposto). Logo, teremos textos como Rm 11.36 no qual a Deus por glorificado por ser criador; Ef 3.20-21 em que a glória de Deus é mencionada junto com seu poder e tantos outros que mostram Deus como Pai da Glória (Ef 1.17), Deus da Glória (At 7.2), que apenas mencionam a glória de Deus (1 Tm 1.11), ou que ordene que se dê glória a Deus (Fp 4.20).

Por fim, depois desse pequeno percurso pela Bíblia (e análise das palavras kabod e doxa), podemos dizer que a glória de Deus é sua reputação, quem Ele é como deve ser conhecido; o devido e merecido reconhecimento pela sua divindade e obras. Isto é a glória de Deus. Mas eu não poderia encerrar este post sem falar que Jesus Cristo é a manifestação máxima dessa glória de Deus na terra (Jo 1.14), identificado por Paulo como o próprio SENHOR da Glória (1 Co 8).

Shalom;

Maykon Renner.

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[1] De acordo com o Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento.

[2] Comentário de Êxodo (cap. 24.15-17), série Cultura Bíblica .

[3] Aparição ou manifestação de Deus.

[4] Tipo de arranjo poético hebraico em que a segunda linha de um verso repete a ideia da primeira linha, mas com palavra diferentes.