quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Orientações no livro de Jó para os teólogos "modernos"




Uma das grandes vantagens e bênçãos deste século com a globalização e o uso da internet tem sido a democratização do conhecimento (acho que podemos falar assim). Hoje as pessoas têm muito mais acesso a conhecimento do que antes. E isso a proporções gigantescas. Os jovens do século XXI têm incomparavelmente mais acesso à informação do que tinham seus pais há 30 anos (o que tem gerado um grupo de “pseudo-intelectuais”, mas esta já é outra questão). Olhando para o contexto cristão, é notável que esse evento também ocorre dentro das igrejas; por meio da internet jovens cristãos tem muito mais acesso a conteúdo teológico que há poucos anos atrás. Se alguém pesquisar no Google hoje sobre “cinco pontos do calvinismo” o pesquisador trará mais de 150 mil resultados quase que instantaneamente. O leitor pode acessar algumas dessas páginas e se considerar expert em calvinismo. Esse fenômeno tem gerado nas igrejas jovens arrogantes que sabem tudo de Deus, mas não tem uma vida prática de piedade, “pseudo-teólogos” (quem sabe até “pseudo-cristãos”).
Além disso, há também aqueles que se diplomam, até leem bons livros de teologia e tornam-se "detentores das verdades sobre Deus"; que entendem que sua maturidade cristã está em quantas teorias teológicas domina.
Milhares de anos atrás a Bíblia já alertava para o quão tolas são essas pessoas. Jó fala especialmente do caso de Elifaz, Bildade e Zofar. Homens “sábios” cujo perfil era de intelectuais detentores da sabedoria divina. Com o caso desses homens fica a lição de que: (1) Deus não pode ser posto numa caixa de pensamento; (2) Crescimento intelectual deve estar ligado a relacionamento pessoal.
            Vamos entender como era a teologia desses homens. Eles tinham um modelo de retribuição divina com o qual julgavam a situação de Jó (culpado!). Elifaz via Deus como um ser justo, tão justo que nem as estrelas eram consideradas justas diante de dEle. Para ele as calamidades da vida eram unicamente consequência do pecado. Portanto, o justo jamais sofreria. Sua sabedoria vinha daquilo que ele observava (um pouco de misticismo). Bildade pensava de forma semelhante à Elifaz e ainda enfatizava que Deus julgava o ímpio ainda em vida, sua riqueza era consumida quase que imediatamente pelo juízo divino. Porém, sua sabedoria vinha da tradição, daquilo que os mais velhos o tinham ensinado. Na visão de Zofar, a sabedoria de Deus é inescrutável, e ele era tão misericordioso que até tinha deixado alguns dos pecados de Jó impunes. O ímpio vive na miséria ao passo que o justo é enriquecido pela misericórdia divina. Ele julgava ter o verdadeiro entendimento doutrinário sobre o mal.
Resumindo, o pensamento dos três é o seguinte:
·        - Deus é justo;
·        - Por ser justo, ele pune o pecado;
·        - Logo, quando alguém sofre é porque pecou e está sendo punido por Deus.

O principal problema com o pensamento desses homens é que eles acabavam limitando a ação de Deus. Como se dissessem: “Deus só age dessa maneira”. Colocavam-no numa caixa. Esse é o problema com muitos dos teólogos e pseudo-intelectuais cristãos hoje. Acham que sabem tudo de Deus, que podem prever a forma como Deus age. Como Elifaz, Bildade e Zofar, são arrogantes, donos da lei, desconhecedores da graça. "Quem conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi seu conselheiro?" Rm 11.34.
Ter um encontro pessoal com Deus e ouvir dEle tantas verdades sobre a excelência de si mesmo em relação ao homem provocou em Jó uma transformação emocionante. O que antes era um conhecimento superficial de Deus (de ouvir falar, 42.5) se tornou um conhecimento relacional após o encontro pessoal com Yahweh. Isso fez com que Jó reconhecesse profundamente quem é o Senhor (Jó 42.2) e humildemente se arrependesse pela insignificância de quem ele realmente é (Jó 42.6). E quando homens acham que a maturidade cristã vem da quantidade de informações teológicas que armazenam na mente, acabam abandonando o exercício da piedade. São homens cujo relacionamento com Deus se torna superficial. São homens que se esqueceram do quanto é importante seu encontro pessoal diário com Deus e acabam estagnando no processo de conformação à imagem de Cristo. O crescimento espiritual está intimamente ligado ao relacionamento pessoal com Deus. A verdadeira teologia deve levar ao homem a exercer sua piedade cristã em busca ávida pela presença de Deus. Teologia e piedade devem caminhar juntas. “No temor do Senhor está a sabedoria, e evitar o mal é ter entendimento” Jó 28.28.
No mais, não há limite para a produção de livros, conhecimento é produzido em todo momento tentando explicar o sentido da vida, os males do mundo, a essência o divino; sem Deus todo esse estudo deixa exausto o corpo (Ec 12.12). Importa que exercite-se na santa Escritura (II Tm 2.15) e na piedade que “para tudo é proveitosa, porque tem promessa da vida presente e da futura” (I Tm 4.8).

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