terça-feira, 1 de janeiro de 2019

Qual a principal motivação de um pastor?

Qual a principal motivação de um pastor? Muitas  podem  ser  as  motivações  para um  homem  assumir  o  ministério  pastoral.  E  por motivações quer  dizer aquilo que  estimula  alguém  a  fazer algo.  Há  motivações espúrias e há  motivações  genuinamente  boas.  Mas  o  que  motiva,  realmente,  um  homem,  a  passar necessidades  às  vezes,  decepções  e  tantas  outras  coisas  e  assim  ingressar  e  permanecer no  ministério  pastoral?  Veremos  o  que  a  Bíblia  nos  fala  sobre  isso  e  como  motivações errôneas  podem  prejudicar  severamente  um  ministério  e  as  ovelhas  do  Pai. Para  começar , veja  o que  Paulo fala  sobre  as  características  de  um falso  mestre:

Esse  tal  [falso  mestre/pastor]  mostra  um  interesse doentio  por  controvérsias  e  contendas acerca  de  palavras,  que  resultam  em  inveja,  brigas,  difamações,  suspeitas  malignas  e atritos  constantes  entre  aqueles  que  têm  a  mente  corrompida  e  que  são  privados  da verdade, os quais pensam que a piedade é fonte de lucro. 1 Tm 6.4-5

Dentre  o  que  foi  dito  por  Paulo  podemos  destacar,  primeiro,  que  alguns  pastores  (falsos mestres)  tem  um  interesse  por  brigas  e  discussões  a  respeito  de  assuntos  polêmicos  que nadam  importam  para  a  sã  doutrina  e  apenas  causam  dissenções.  Esse  interesse  é  o  que motiva  esses  homens  a  permanecer  ensinando.  É  um  desejo  quase "doentio".  Como  Paulo  fala, uma vontade  de  discutir por  causa  de  “palavras”, ou seja, um menor  detalhe  (vírgulas!)  a respeito  de  alguma  coisa  da  Bíblia  é  motivo  para  fazer  tempestade  em  um  copo  de  água. Motivados  por  um  desejo  excessivo  a  respeito  de  assuntos  teológicos  sem  nenhum  fim frutífero  e  que  nada  influem  para  a  vida  cristã  esses  homens  apenas  “matam”  a espiritualidade de seus “seguidores”.

Outra  motivação,  encontrada  nesse  texto,  é  o  desejo  por  lucros.  Muitos  pastores  julgam que  a  religião,  ou  mais  especificamente  neste  caso  o  ministério,  é  uma  meio  para  se conseguir  algum  crescimento  financeiro.  E  embora  a  Bíblia  ensine  a  necessidade  de  se pagar  um  justo  sustento  aos  seus  pastores,  e  haja  igrejas  com  boas  condições  de proporcionarem  generosos  sustentos  aos  seus  pastores,  esse  não  é  o  propósito  último  do ministério  pastoral,  nunca  será.  E  como  Paulo  diz  ainda  posteriormente  no  mesmo  texto (v.  10)  o  amor  ao  dinheiro  é  a  raiz  de  todos  os  males.  Aqueles  que  tem  o  lucro  motivação final  de  sua  vida  acabam  na  destruição.  Homens  com  esse  tipo  de  motivação  maior  tratam o  ministério  com  profissionalismo.  E  a  igreja acaba  assumindo  os  moldes  do  mercado.  O pastor  vira  uma  espécie  de  “produto”  ou  um  certo  “prestador  de  serviços”.  Então  esses homens  acham  que  quanto  maior  for  a  qualidade  ou  a  variedade  dos  serviços  prestados maior  deve  ser  o  preço  a  ser  pago  pelos  seus  serviços.  Ou  quanto  mais  especialista  for  o pastor  mais  seu  “conhecimento”  deve  ser  recompensado[1].  Pastores  assim  são mercenários, exploradores e procuram servir apenas nas megaigrejas.

Podemos  ainda  dizer  que  há  homens  que  desejam  o  ministério  motivados  pelo  “poder” ou  status  social.  Por  ser  uma  posição  respeitada  e  influente,  muitos  homens  pensam  no ministério como uma  oportunidade  política.  Pensam  em galgar  posições  de  liderança  em uma  igreja  até  chegar  ao  ministério  para  poder  influenciar  as  pessoas,  guiar  a  vida  delas tendo  por  base  seus  próprios  conceitos  pessoais.  Usam  a  igreja  como  um  grupo  para trabalhar em torno de si mesmos.

Mas  há  pastores  que  tem  boas  motivações  para  ingressar  no  ministério  pastoral.  Uma delas  é  o  amor  pelas  ovelhas  que  pastoreia.  Essa  é  uma  boa  motivação  porque,  afinal,  se alguém  dedica  sua  vida  para  cuidar  de  pessoas  é  preciso  que  você  as  ame.  Caso  contrário o  pastoreio  seria  motivado  pela  obrigação.  E  com  relação  a  isso  Pedro  já  nos  advertiu  que essa  não  deve  ser  a  motivação  para  o  ministério  (1  Pe  5.2);  Deus  quer  que  o  ministério seja  exercido  com  prazer.  Um  ministério  por  obrigação  é  o  ministério  de  um  pastor,  na verdade,  sem  motivação,  sem  prazer,  sem  vontade,  como  costuma-se  dizer  “empurrando com  a  barriga”.  Por  outro  lado,  a  pesar  de  o  amor  pelas  ovelhas  ser  uma  boa  motivação, esta  ainda  não  é  a  principal  delas.  “Quem  ama  seu  pai  ou  sua  mãe  mais  do  que  a  mim não  é  digno  de  mim;  quem  ama  seu  filho  ou  sua  filha  mais  do  que  a  mim  não  é  digno  de mim”  (Mt  10.37).  Se  trocássemos  as  palavras  pai,  mãe,  filho  e  filha  por  ovelhas?  Então podemos  aprender  que  nada  nesse  mundo  pode  tomar  o  lugar  do  amor  que  um  cristão,  ou um  pastor,  tem  por  Jesus  Cristo.  Se  isso  acontece,  se  o  amor  pelas  ovelhas  é  a  maior  e principal motivação  para  um pastor,  ainda  que  o pastor seja  capaz  de  grandiosas atitudes pelas  ovelhas,  este  ainda  corre  um  sério  risco  de  se  tornar  um  bajulador.  Alguém  que mima  as  ovelhas,  evita  discipliná-las  e  prega  apenas  aquilo  que  elas  querem  ouvir.  Aqui vale  lembrar  um  provérbio:  “Quem  repreende  o  próximo  obterá  por  fim  mais  favor  do que  aquele  que  só  sabe  bajular”  (Pv  28.23).  Isso  nos  leva  ao  que  deve  ser  a  maior  e principal motivação para o ministério pastoral.

Como  já  visto  em  Mt  10.37,  Cristo  deve  ser  o  maior  objeto  de  amor  e  devoção  do  cristão, de  uma  forma  geral,  e,  consequentemente,  do  pastor.  E  não  há  maior  e  mais  bela motivação  para  o  exercício  do  ministério  pastoral  do  que  ter  por alvo  amar a  Jesus  Cristo sobre  todas  as  coisas.  Se  Jesus  não  tiver  acima  de  todas  as  coisas  no  ministério  pastoral, todas  as  outras  estarão,  consequentemente,  desarranjadas.  É  pouco  provável  que  alguém ame o menor sem amar corretamente  o maior  (Mez  McConnell).  Sem  o devido amor  por Cristo,  quando  no  ministério  houver  tribulações,  quando  as  dificuldades  surgirem,  quando deliberadamente  as  ovelhas  forem  contra  o  pastor,  então  não  haverá  mais  motivos  para seguir  no  ministério.  Mas  quando  Cristo  for  o  alvo,  quando  todos  os  sofrimentos  pela igreja  for  por  amor  a  Cristo  então  a  motivação  jamais  será  perdida  de  vista.  Além  disso, quem  ama  verdadeiramente  a  Jesus  Cristo  também  amará  suas  ovelhas  e  cuidará  delas com amor (Warren Wiersbe). É isso que Jesus ensina a Pedro em Jo 21.15-17:

Depois de  comerem,  Jesus perguntou a 
Simão Pedro: “Simão, filho de  João, você  me ama mais do  que  estes?”
Disse ele:  “Sim, Senhor,  tu sabes que  te amo”.
Disse Jesus: “Cuide dos  meus cordeiros”.
Novamente Jesus disse:  “Simão, filho de João, você  me  ama?”
Ele  respondeu: “Sim, Senhor, tu sabes que  te  amo”.
Disse Jesus: “Pastoreie  as minhas ovelhas”.
Pela terceira vez, ele lhe  disse: “Simão, filho de  João, você  me  ama?”
Pedro ficou magoado por Jesus lhe  ter perguntado pela terceira vez “Você  me  ama?” e lhe disse:  “Senhor, tu  sabes todas as coisas e sabes que  te amo”.
Disse-lhe Jesus: “Cuide das minhas ovelhas.

Aquele  que  ama  verdadeiramente  o  sumo-pastor  amará  suas  ovelhas  e  cuidará  delas.  De fato,  aquilo  que  deve  motivar  um  pastor  a  cuidar  das  ovelhas  do  Pai  é  o  amor  a  Cristo.  E o  que  deve  motivar  o  pastor  a  permanecer  firme  no  ministério  mesmo  diante  de  tantas dificuldades  é  o  amor  por  Cristo.  O  que  deve  levar  tantos  homens  a  abrirem  mão  de  tantos projetos  para  dedicarem-se  a  uma  vida  ministerial  é  o  amor  por  Cristo.  “O  amor  [por Cristo],  o  amor  puro,  é  a  única  base  adequada  para  o  serviço  [pastoral]”  (Earle  & Mayfield).

Shalom;
Maykon Renner.
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[1]  Mas  veja  bem,  não  confunda  este  ponto  com  noção  que  a  igreja  pode  ter  de  valorizar o  estudo  e  a  capacitação  de  seu  pastor  investindo  nele  e  em  seu  desenvolvimento.  Nada disso  tem  a  ver  com  a  noção  de  obrigatoriamente  “recompensá-lo”  ou  pagar  por  um produto disputado no mercado; sendo  este último o ponto discutido no  texto.

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