Qual a principal motivação de um pastor? Muitas podem ser as motivações para um homem assumir o ministério pastoral. E por motivações quer dizer aquilo que estimula alguém a fazer algo. Há motivações espúrias e há motivações genuinamente boas. Mas o que motiva, realmente, um homem, a passar necessidades às vezes, decepções e tantas outras coisas e assim ingressar e permanecer no ministério pastoral? Veremos o que a Bíblia nos fala sobre isso e como motivações errôneas podem prejudicar severamente um ministério e as ovelhas do Pai. Para começar , veja o que Paulo fala sobre as características de um falso mestre:
Esse tal [falso mestre/pastor] mostra um interesse doentio por controvérsias e contendas acerca de palavras, que resultam em inveja, brigas, difamações, suspeitas malignas e atritos constantes entre aqueles que têm a mente corrompida e que são privados da verdade, os quais pensam que a piedade é fonte de lucro. 1 Tm 6.4-5
Dentre o que foi dito por Paulo podemos destacar, primeiro, que alguns pastores (falsos mestres) tem um interesse por brigas e discussões a respeito de assuntos polêmicos que nadam importam para a sã doutrina e apenas causam dissenções. Esse interesse é o que motiva esses homens a permanecer ensinando. É um desejo quase "doentio". Como Paulo fala, uma vontade de discutir por causa de “palavras”, ou seja, um menor detalhe (vírgulas!) a respeito de alguma coisa da Bíblia é motivo para fazer tempestade em um copo de água. Motivados por um desejo excessivo a respeito de assuntos teológicos sem nenhum fim frutífero e que nada influem para a vida cristã esses homens apenas “matam” a espiritualidade de seus “seguidores”.
Outra motivação, encontrada nesse texto, é o desejo por lucros. Muitos pastores julgam que a religião, ou mais especificamente neste caso o ministério, é uma meio para se conseguir algum crescimento financeiro. E embora a Bíblia ensine a necessidade de se pagar um justo sustento aos seus pastores, e haja igrejas com boas condições de proporcionarem generosos sustentos aos seus pastores, esse não é o propósito último do ministério pastoral, nunca será. E como Paulo diz ainda posteriormente no mesmo texto (v. 10) o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males. Aqueles que tem o lucro motivação final de sua vida acabam na destruição. Homens com esse tipo de motivação maior tratam o ministério com profissionalismo. E a igreja acaba assumindo os moldes do mercado. O pastor vira uma espécie de “produto” ou um certo “prestador de serviços”. Então esses homens acham que quanto maior for a qualidade ou a variedade dos serviços prestados maior deve ser o preço a ser pago pelos seus serviços. Ou quanto mais especialista for o pastor mais seu “conhecimento” deve ser recompensado[1]. Pastores assim são mercenários, exploradores e procuram servir apenas nas megaigrejas.
Podemos ainda dizer que há homens que desejam o ministério motivados pelo “poder” ou status social. Por ser uma posição respeitada e influente, muitos homens pensam no ministério como uma oportunidade política. Pensam em galgar posições de liderança em uma igreja até chegar ao ministério para poder influenciar as pessoas, guiar a vida delas tendo por base seus próprios conceitos pessoais. Usam a igreja como um grupo para trabalhar em torno de si mesmos.
Mas há pastores que tem boas motivações para ingressar no ministério pastoral. Uma delas é o amor pelas ovelhas que pastoreia. Essa é uma boa motivação porque, afinal, se alguém dedica sua vida para cuidar de pessoas é preciso que você as ame. Caso contrário o pastoreio seria motivado pela obrigação. E com relação a isso Pedro já nos advertiu que essa não deve ser a motivação para o ministério (1 Pe 5.2); Deus quer que o ministério seja exercido com prazer. Um ministério por obrigação é o ministério de um pastor, na verdade, sem motivação, sem prazer, sem vontade, como costuma-se dizer “empurrando com a barriga”. Por outro lado, a pesar de o amor pelas ovelhas ser uma boa motivação, esta ainda não é a principal delas. “Quem ama seu pai ou sua mãe mais do que a mim não é digno de mim; quem ama seu filho ou sua filha mais do que a mim não é digno de mim” (Mt 10.37). Se trocássemos as palavras pai, mãe, filho e filha por ovelhas? Então podemos aprender que nada nesse mundo pode tomar o lugar do amor que um cristão, ou um pastor, tem por Jesus Cristo. Se isso acontece, se o amor pelas ovelhas é a maior e principal motivação para um pastor, ainda que o pastor seja capaz de grandiosas atitudes pelas ovelhas, este ainda corre um sério risco de se tornar um bajulador. Alguém que mima as ovelhas, evita discipliná-las e prega apenas aquilo que elas querem ouvir. Aqui vale lembrar um provérbio: “Quem repreende o próximo obterá por fim mais favor do que aquele que só sabe bajular” (Pv 28.23). Isso nos leva ao que deve ser a maior e principal motivação para o ministério pastoral.
Como já visto em Mt 10.37, Cristo deve ser o maior objeto de amor e devoção do cristão, de uma forma geral, e, consequentemente, do pastor. E não há maior e mais bela motivação para o exercício do ministério pastoral do que ter por alvo amar a Jesus Cristo sobre todas as coisas. Se Jesus não tiver acima de todas as coisas no ministério pastoral, todas as outras estarão, consequentemente, desarranjadas. É pouco provável que alguém ame o menor sem amar corretamente o maior (Mez McConnell). Sem o devido amor por Cristo, quando no ministério houver tribulações, quando as dificuldades surgirem, quando deliberadamente as ovelhas forem contra o pastor, então não haverá mais motivos para seguir no ministério. Mas quando Cristo for o alvo, quando todos os sofrimentos pela igreja for por amor a Cristo então a motivação jamais será perdida de vista. Além disso, quem ama verdadeiramente a Jesus Cristo também amará suas ovelhas e cuidará delas com amor (Warren Wiersbe). É isso que Jesus ensina a Pedro em Jo 21.15-17:
Depois de comerem, Jesus perguntou a
Simão Pedro: “Simão, filho de João, você me ama mais do que estes?”
Disse ele: “Sim, Senhor, tu sabes que te amo”.
Disse ele: “Sim, Senhor, tu sabes que te amo”.
Disse Jesus: “Cuide dos meus cordeiros”.
Novamente Jesus disse: “Simão, filho de João, você me ama?”
Ele respondeu: “Sim, Senhor, tu sabes que te amo”.
Disse Jesus: “Pastoreie as minhas ovelhas”.
Pela terceira vez, ele lhe disse: “Simão, filho de João, você me ama?”
Pedro ficou magoado por Jesus lhe ter perguntado pela terceira vez “Você me ama?” e lhe disse: “Senhor, tu sabes todas as coisas e sabes que te amo”.
Disse-lhe Jesus: “Cuide das minhas ovelhas.
Ele respondeu: “Sim, Senhor, tu sabes que te amo”.
Disse Jesus: “Pastoreie as minhas ovelhas”.
Pela terceira vez, ele lhe disse: “Simão, filho de João, você me ama?”
Pedro ficou magoado por Jesus lhe ter perguntado pela terceira vez “Você me ama?” e lhe disse: “Senhor, tu sabes todas as coisas e sabes que te amo”.
Disse-lhe Jesus: “Cuide das minhas ovelhas.
Aquele que ama verdadeiramente o sumo-pastor amará suas ovelhas e cuidará delas. De fato, aquilo que deve motivar um pastor a cuidar das ovelhas do Pai é o amor a Cristo. E o que deve motivar o pastor a permanecer firme no ministério mesmo diante de tantas dificuldades é o amor por Cristo. O que deve levar tantos homens a abrirem mão de tantos projetos para dedicarem-se a uma vida ministerial é o amor por Cristo. “O amor [por Cristo], o amor puro, é a única base adequada para o serviço [pastoral]” (Earle & Mayfield).
Shalom;
Maykon Renner.
_____________________________
[1] Mas veja bem, não confunda este ponto com noção que a igreja pode ter de valorizar o estudo e a capacitação de seu pastor investindo nele e em seu desenvolvimento. Nada disso tem a ver com a noção de obrigatoriamente “recompensá-lo” ou pagar por um produto disputado no mercado; sendo este último o ponto discutido no texto.
Maykon Renner.
_____________________________
[1] Mas veja bem, não confunda este ponto com noção que a igreja pode ter de valorizar o estudo e a capacitação de seu pastor investindo nele e em seu desenvolvimento. Nada disso tem a ver com a noção de obrigatoriamente “recompensá-lo” ou pagar por um produto disputado no mercado; sendo este último o ponto discutido no texto.
Maravilha Rabino.
ResponderExcluir