Estamos na semana da páscoa e uma das narrativas bastante conhecidas dessa época é a narrativa da libertação de Barrabás enquanto Jesus permaneceu preso, demonstrando claramente uma inversão de valores. Clamaram para que o ímpio, ladrão, fosse liberto e que o justo e inocente permanecesse preso. Mas um ponto curioso desse dilema é "porque Barrabás?" Qual a lógica de deixar Jesus (cuja inocência é por várias vezes declarada nos evangelhos - Mc 15.55-57; Jo 18.38) preso (apenas por causa de seus ensinos) e clamar pela soltura de um criminoso popularmente conhecido? E esse tema vez ou outra surge atualmente quando o debate envolve ética e novamente "escolher ladrões em detrimento de justos". Mas talvez haja outro aspecto a se levar em consideração além da questão da inversão de valores. Para entender melhor isso deve-se compreender bem o contexto da época e as questões políticas envolvidas na narrativa.
Naquela ocasião Roma era um império em grande ascensão e conquistou, entre outras, as regiões da Macedônia, Grécia, Síria, Ásia Menor, e inclusive Israel. Revoltas políticas não era algo incomum na em governos ditatoriais como o de Roma, e surgiam vários grupos organizados com a intenção de libertar o povo oprimido. Naturalmente, os líderes mais populares eram presos pelo governo e punidos com as formas mais severas de castigo. Neste ponto é importante lembrar que Israel tinha a perspectiva de um líder messiânico, guerreiro, que quando viesse libertaria a nação da opressão romana; em certo momento quiseram coroar Jesus (Depois de ver o sinal miraculoso que Jesus tinha realizado, o povo começou a dizer: "Sem dúvida este é o Profeta que devia vir ao mundo". Sabendo Jesus que pretendiam proclamá-lo rei à força, retirou-se novamente sozinho para o monte". Jo 6.14-15), e na sua entrada em Jerusalém em sua última semana antes de ser crucificado foi recebido aclamado como o rei que veio em nome do SENHOR (Mc 11.9-10).
Nesse contexto é que entendemos quem foi Barrabás. Seu nome comum não diz muita coisa, mas os evangelhos trazem informações complementares sobre este homem. Ele foi [provavelmente] um líder rebelde popular (Mt 27.16) preso por causa de uma rebelião (Mc 15.6-7). Durante a rebelião chegou a cometer assassinato (Lc 23.19) e roubo (Jo 18.40). Jesus, por outro lado, fugiu da tentativa de ser coroado rei naquele momento (Jo 6.15), não alimentou nenhuma falsa expectativa do povo no momento de sua entrada triunfal (Mc 11), ressaltou que seu reino não era deste mundo (Jo 18.36) e ensinou seus discípulos a pagarem os altos impostos cobrados por César (Mt 22.21). Seus ensinamentos se baseavam no princípio de amar inclusive os inimigos, e orar por eles (Mt 5.44).
Como diz o texto, o costume adotado pelo governador (uma política de boa vizinhança para agradar os judeus, ganhar e a confiança de alguns e suprimir as revoltas) era de, por causa da páscoa, libertar um preso escolhido pelo povo. A páscoa era a festa da libertação, uma comemoração do êxodo, da libertação da escravidão egípcia. E certamente, naquele período, o anseio pela libertação da opressão estaria mais vívido na mente das pessoas. Então, diante as opções, quem escolher? Barrabás ou Jesus? Comparando Jesus e Barrabás, à luz do contexto e das esperanças que Israel nutria em relação ao messias, é possível perceber que Jesus não atendia às expectativas messiânicas desejadas e aguardadas pelo povo. Por outro lado, Barrabás talvez fosse um homem disposto lutar [literalmente] pela libertação do povo. E por isso a escolha natural foi "Barrabás". O povo escolheu alguém que estava mais próximo de sua perspectiva messiânica em detrimento do verdadeiro messias.
E hoje? Permanece o impasse. As pessoas (dentro e fora das igrejas) continuam nutrindo suas próprias versões do messias. Os homens tem seus messias ideais, pessoais, filosóficos, econômicos e políticos. E eles continuam tendo a predileção no coração dos homens enquanto o messias verdadeiro é enviado para ser crucificado. As pessoas não querem um messias que as libertem da escravidão de seus pecados, que as confrontem, que as ensinem a amar seus inimigos e orar por eles, que as faça abrir mãos de bens materiais para ganhar as benção espirituais. Muitas pessoas preferem um messias que mesmo herege, por vezes violento, assassino, ou ladrão satisfaça suas perspectivas e desejos.
Jesus Cristo é o verdadeiro messias, o rei prometido, o salvador da humanidade, aquele que liberta os homens do cativeiro do pecado. Morreu, ressuscitou e está assentado à direita do Pai nos céus. A ele seja a gloria para todo o sempre. Deus tenha misericórdia de todos.
Shalom;
Maykon Renner
Excelente
ResponderExcluir